Senhora da Nazaré

Senhora da Nazaré – A Senhora da Nazaré é, sem dúvida, uma das mais antigas devoções religiosas em Portugal. Diz a lenda que a imagem que se encontra no santuário do Sítio da Nazaré provém mesmo da cidade da Galileia e daí o nome da nossa vila da Nazaré. Teria sido feita pelas próprias mãos de S. José essa imagem, que até ao séc. IV permaneceu na Galileia objecto de grande culto. Por essa altura, o monge Ciríaco, para a livrar de perseguições heréticas, tê-la-ia levado para Belém, donde seguiu para Hipona, no norte de África, a fim de ser oferecida a Santo Agostinho, então bispo da cidade. Daqui, novamente por questões de segurança, foi trazida para Mérida, na Península Ibérica, e confiada aos monges do Mosteiro de Cauliniana, onde, resplandecendo em milagres e já conhecida por Senhora da Nazaré, passou a ser objecto de grande veneração.

Todavia, chegada a invasão muçulmana, de novo a excelsa imagem se achou em grande perigo, pelo que D. Rodrigo, último rei visigótico da Hispânia, acompanhado de Frei Romano, a levou em fuga de terra em terra, até chegarem ao litoral, ao actual Sítio da Nazaré, por alturas da Pederneira. Aí a esconderam numa fraga, local onde, séculos depois, a foram encontrar os pastores, que logo passaram a venerá-la. Depois, deu-se o conhecido episódio de D. Fuas Roupinho, alcaide de Porto de Mós, e, desde então, a devoção cresceu e de muito longe passaram a vir romeiros rezar, pedir e agradecer à Virgem da Nazaré.

O mês de Setembro constitui a época de maior afluência de peregrinos, procedentes de toda a Estremadura e também de outras províncias, na sua maior parte sob a forma tradicional do círio (vide). O círio mais importante é o da Prata Grande, associação de 17 freguesias dos aros concelhios de Mafra, Sintra e Torres Vedras, que se uniram e constituíram uma confraria, com compromisso escrito e assinado em 1732. Têm imagem própria, réplica da que se encontra no santuário do Sítio, a qual circula anualmente de freguesia para freguesia, realizando a festa a que a recebe em cada ano. A respectiva comunidade realiza, no ano que lhe cabe, romaria à Nazaré (diz-se que a imagem do giro “vai à mãe”). Como é tradicional, os anjinhos deitam as loas à Virgem, tanto quando recebem a imagem da freguesia anterior, como depois na procissão da festa, ao longo do percurso, e por fim, no ano seguinte, quando entregam a imagem à freguesia que lhe sucede no giro – v. Loas.

Mais: Tradições Musicais da Estremadura, Tradisom 2000, de José Alberto Sardinha, p. 305 a 321 e faixa 20 (Livramento, Mafra) do CD 3 que acompanha esta obra.

N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.