Sanfona – Instrumento musical cujas cordas se encontram no seu interior e que são friccionadas através de uma manivela que o tocador faz girar com a mão direita, enquanto a esquerda toca um teclado simples destinado a dar as notas. Muito utilizado pelos músicos de rua em toda a Europa, em Portugal também foi instrumento dos jograis e dos ceguinhos acompanhando os seus cantares narrativos de terra em terra. Há informações desde a Idade Média que associam a sanfona aos cegos e músicos de rua em geral, quer em monumentos poéticos, quer em gravuras. Ainda no séc. XIX, a profusão de gravuras e quadros é elucidativa quanto à relevância e frequência do fenómeno. Em 1895, César das Neves, a p. 145 do volume II do Cancioneiro de Músicas Populares, faz referência à sanfona, informando que do seu reportório fazia parte o cântico religioso do Viático.
Parece ter desaparecido da nossa tradição popular nos princípios do séc. XX, não existindo, porém, nenhum registo sonoro de qualquer instrumentista. Ernesto Veiga de Oliveira narrava que se recordava, na sua infância, de ter visto um tocador de sanfona na região de Izeda, Trás-os-Montes, não tendo porém, mais tarde, logrado entrevistar qualquer tocador, ainda que inactivo. José Alberto Sardinha, na sua pesquisa em Trás-os-Montes, apurou junto de Margarida Fidalgo que, nos anos 1930, na feira de Vilarandelo, concelho de Valpaços, costumava aparecer um cego tocador de sanfona, com um companheiro que cantava ao som do instrumento.
Recentemente assiste-se ao ressurgimento da sanfona nas mãos de músicos revivalistas, distinguindo-se na sua construção e execução Fernando Meireles (Coimbra) e Célio Pires (Miranda do Douro), este na fotografia junta. Em virtude de o instrumento ter caído em desuso na tradição popular, o termo sanfona transitou para outras realidades musicais, nomeadamente para designar a gaita-de-beiços em muitas regiões, como acontece em terras estremenhas.
Mais: Instrumentos Musicais Populares Portugueses, de Ernesto Veiga de Oliveira; Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, p. 444 a 447.
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