Ronda – Passeio musical outrora muito frequente nas nossas aldeias, a cargo dos rapazes que percorriam as ruas tocando e cantando, por vezes parando à janela das moças e dirigindo-lhes serenatas – vide. Ainda há poucos decénios, os rapazes das aldeias continuavam praticando este costume, às vezes no final dos ensaios das tunas, que abundavam por todo o país.
Era um costume muito antigo, este de a mocidade fazer rondas musicais pelas ruas das povoações, tivessem elas por finalidade o galanteio, a serenata às moças, o cumprimento aos recém-casados (também conhecido por parabéns aos noivos, ou serenata aos noivos), o chamamento para o baile (aos domingos à tarde), ou a celebração de algum especial acontecimento (como é o caso da ronda das sortes, ou da ronda do compasso pascal na Ribeira-Lima), ou também as rondas do entrudo, ou as rondas das noites das desfolhadas e dos fiadeiros, ou as arruadas das festas (na véspera e no dia), ou ainda a manifestação de alegria por algum sucesso particular, ou as rondas das adiafas, ou o simples gosto de rondar, de tocar e cantar pelas ruas, de exibir os dotes musicais e vocais, de se mostrarem às moças, de dia ou de noite mas preferencialmente à noite, como forma de expandir os seus sentimentos lúdicos e amorosos, ajudando simultaneamente a dar consistência aos laços de amizade, parentesco e vizinhança.
Note-se que, embora tenham mais visibilidade as rondas das comunidades rurais, também em Lisboa elas ocorriam, como nos mostra o depoimento de Alfredo Marceneiro quando evocava as alegres rondas musicais pelos bairros populares em que participava.
Em Espanha, o fenómeno era em tudo idêntico, levando aí o nome de rondalla, aliás do mesmo étimo da palavra portuguesa. Os instrumentos eram sobretudo os cordofones (viola portuguesa, violão, guitarra), sem embargo de serem as rondas acompanhadas pela gaita-de-foles, caixa e bombo no nordeste trasmontano, como registado por José Alberto Sardinha em Vinhais – v. Portugal – Raízes Musicais, CD 2, faixa 33. Armando Leça define a ronda minhota integrando os seguintes instrumentos: clarinete, rabeca, harmónica, cavaquinho, viola, violão, bombo e ferrinhos, distinguindo-a da festada duriense, por esta não possuir clarinete e ter canas (provavelmente reque-reque). Lima Carneiro, porém, descreve a festada de Santo Tirso como uma “tuna composta por violas, harmónios de mão, castanholas, canas, ferrinhos, tambores, cavaquinhos e pandeiros”.
Discografia: Recolhas Musicais da Tradição Oral Portuguesa, 1982, de José Alberto Sardinha, Disco 3, Lado A, Faixa 9 (Moimenta da Raia, Vinhais); Portugal – Raízes Musicais, de José Alberto Sardinha, BMG/Jornal de Notícias 1997, CD 2, faixa 33; Recolhas de Armando Leça, inéditas, arquivo RDP, bobine AF-451 (Constantim, Miranda do Douro), AF-457 (Nozedo de Cima, Vinhais – ronda das segadas, com acompanhamento de flauta).
N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.