Realejo

Realejo – Instrumento próprio dos músicos ambulantes, movido a manivela que faz girar um cilindro metálico, cujas rebarbas fazem, por sua vez, vibrar palhetas metálicas que dão as notas de melodias conhecidas, por vezes árias de ópera mais populares. É geralmente transportado num pequeno carrinho com rodas.

Em Lisboa, deixaram de se ouvir estes realejos nas ruas por proibição do Governo Civil no séc. XIX, após queixas dos moradores contra o ruído das maquinetas.

José Alberto Sardinha, por alturas do Natal de 2016, encontrou outra versão de tamanho mais reduzido nas mãos de um francês residente no Porto (Jean-Marc, conhecido localmente por Marco), que costuma tocar à entrada do Mercado do Bulhão e na Rua das Flores: é constituída por uma pequena caixa, também com manivela, cujo tampo superior é percorrido por um cartão perfurado e à medida que o cartão vai passando, os seus orifícios são preenchidos por agulhas procedentes do interior da caixa, que, ao levantarem, fazem passar o ar que vem propulsionado por dois foles alimentados pela manivela e vibrar palhetas metálicas que se encontram nos respectivos canais de ar, assim produzindo as notas e fazendo as várias melodias (cada cartão, sua melodia). A manivela tem duas funções: fornecer ar para os foles e fazê-los soprar o ar para os canais onde se encontram as palhetas metálicas; e fazer andar o cartão perfurado pela calha larga que se encontra no topo da caixa, entrando esse cartão por um dos lados e saindo pelo outro, após os seus orifícios terem passado pela agulhas, como se explicou. É, portanto, um aerofone de palheta metálica. É portátil e tocado ao colo. Em francês chama-se “orgue de barbarie” e em italiano conhece o nome de “organetta di barbari”. O repertório é constituído por danças populares da Europa central (sobretudo italianas, como a tarantela), bem como canções napolitanas românticas. É o único exemplar de realejo em actividade conhecido em Portugal.

Como muitas vezes acontece na tradição popular e particularmente no âmbito da organologia, o termo realejo, após o instrumento próprio ter caído em desuso, passou a designar outra realidade e assim foi que, em quase todas as províncias, o vocábulo realejo passou a ter outro significado e é hoje sinónimo de harmónica ou gaita-de-boca – vide. É muito provável que a adopção dessa nomenclatura pelo povo dessas províncias tenha ficado a dever-se ao facto de, pela similitude da sua sonoridade, ou do princípio sonoro que a ambos preside – vibração de palheta metálica, no exemplar localizado no Porto, vibração pela passagem do ar -, se chamar realejo de manivela ao primeiro dos instrumentos acima descrito, passando a harmónica ou gaita de boca a chamar-se realejo de boca e, seguidamente, apenas realejo.

N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.