Pulhas

Pulhas – Gritos, por vezes em recitativo, de escárnio e gozo, deitados pelos rapazes por alturas do entrudo, pela calada da noite, geralmente através de funis do azeite ou do vinho (semelhante ao porta-voz da marinha), para se tornarem mais perceptíveis. São formas de vindicta popular, através das quais se critica alguns aspectos da vida da aldeia, um que outro amor escondido, alguma personagem menos benquista, um acontecimento que tenha impressionado a opinião pública, um caso caricato ou ridículo que tenha sucedido durante o último ano, mas sobretudo pequenas alusões a esta ou àquela moça por qualquer caso que seja susceptível de irrisão. Em geral, a pulha é deitada por um rapaz, respondendo os outros com apupos ou gritos de “uh! uh! uh!”. Em virtude de assumirem por vezes proporções ofensivas para os visados, os autores da brincadeira mantêm-se escondidos (“às vezes dava porrada”).

Na Beira Baixa (Alcaide, Fundão), é conhecida por chorar o entrudo, ou choradela do entrudo. Na Barroca, mesmo concelho do Fundão, para “chorar o antrudo”, os rapazes, já de noite, colocavam-se em vários locais de  onde  fosse fácil serem ouvidos, por vezes nos cabeços próximos da aldeia. Um deles ia bater à porta e conversar previamente com o possível visado da chacota, contando-lhe a história caricata que tinha chamado a atenção do povo. Se ele se ria e mostrava descontracção, designadamente se oferecia alguma chouriça, poupavam-no ao escárnio. Se, ao invés, revelava agastamento pela abordagem, era certo ser gozado. Um dos rapazes gritava pelo funil: “É ou não verdade que o Ti F. fez isto, ou aquilo, e que sucedeu assim ou assado”?, ao que os outros respondiam em assuada, batendo com latas e gritando “É verdade! É verdade, sim senhor!”  Uma forma mais benigna de pulhas é a que é deitada às claras, i. e., sem o resguardo do anonimato, também durante a época do entrudo, mas no campo, nos trabalhos agrícolas, ou mesmo na taberna, como sucedia, por exemplo, na Estremadura.

Mais: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, Tradisom 2000, p. 202 a 205.

Discografia: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, Faixa 19 (Paul, Mafra) do CD 2 que acompanha esse livro.

N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.