Pregão das Almas – Brado ou canto individual, que visa exortar as pessoas que o escutam a rezarem pelas almas caídas ao fogo do Purgatório. Há notícias do séc. XVIII procedentes das confrarias das almas, cujos estatutos obrigavam a procurar e pagar ao andador das almas para que este andasse pelas ruas a lançar esse brado ou pregão, de teor admonitório, por vezes terrífico: “Alerta, irmãos, alerta / Que a vida é curta e a morte é certa!” Ele próprio rezava às almas, exortava a que os ouvintes o fizessem também e, por vezes, pedia esmola para mandar dizer missas pelas santas almas do Purgatório.
Nos estatutos da Irmandade das Almas de Arouca, de 1715, estipulava-se: “Ordenamos que os mordomos tenham cuidado no seu ano, pela Quaresma, de procurar um homem de boa vida e costumes, pagando-se dos réditos da irmandade para que todas as sextas feiras na Quaresma a todos os passos desta vila encomende as almas do purgatório rezando-lhes e pedindo em voz alta, e inteligível a todos, se lembrem delas, isto com quietação, modéstia e devoção”. Ainda hoje em certas aldeias do Norte, um homem, a altas horas da noite, na Quaresma deita este pregão de um ponto alto para que todos o oiçam, cantando e tocando por vezes uma campainha. Trata-se geralmente de promessa pessoal, mas filia-se na velha tradição do andador das almas. V. Almas do Purgatório, Amentação da Almas, Encomendação das Almas.
Mais: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, Tradisom 2000, p. 153, 154, 211 e 212.
Discografia: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, Faixa 22 (Leiria) do disco 2 que acompanha este livro; e ainda Portugal – Raízes Musicais, recolhas de José Alberto Sardinha, CD 1, faixa 27 (Cabeceiras de Basto).
N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.