Pandeiro

Pandeiro – Termo genérico usado para designar a família dos instrumentos compostos de uma pele esticada e presa por armação, a qual é tangida pelas mãos do executante. Pode ter forma circular ou quadrangular. Pode ter pele apenas numa das faces (instrumento uni-membranofone), ou nas duas (bi-membranofone). Estes últimos, na forma quadrangular, levam o nome de adufes (vide) na Beira Baixa e na Beira Alta, ao passo que em Trás-os-Montes e Alentejo eram designados simplesmente por pandeiros.

Covarrubia, nos finais do séc. XVI, princípios do XVII, escreveu que os pandeiros foram primeiro redondos e depois quadrados. Desconhece-se, porém, o fundamento, ou mesmo a lógica, de tal afirmação. A toda esta família dos membranofones tem sido atribuída origem mourisca, mas erroneamente. Este tipo de atribuição de origens árabes aos mais variados instrumentos musicais e até a formas populares de canto, como o fado ou os corais alentejanos, deriva de uma mentalidade romântica da qual, quase dois séculos depois de Garrett, alguns eruditos portugueses ainda se não libertaram. Para invalidar esse tipo de atribuições, bastará lembrar a existência de um mosaico de Pompeia figurando músicos populares, entre os quais um tocador de pandeiro redondo (cuja origem é frequentemente atribuída aos árabes…). Os exegetas da Bíblia vêem pandeiros nas mãos da irmã de Moisés e das mulheres que a seguiam num versículo do Êxodo. Deverá concluir-se ser um instrumento musical comum a toda a bacia do Mediterrâneo.

O uso mais frequente do pandeiro prende-se com o acompanhamento de formas populares cantadas (v.g. modas de serão no nordeste trasmontano, modas de adufe na Beira Baixa, saias no Alto Alentejo).

Segundo toda a tradição mediterrânica, o pandeiro é um instrumento tipicamente feminino – v. adufe. Diz um velho rifão popular português que “à mulher louca agrada mais o pandeiro que a touca”.

Mais: Instrumentos Musicais Populares Portugueses, de Ernesto Veiga de Oliveira.

Discografia: Recolhas Musicais da Tradição Oral Portuguesa, 1982, de José Alberto Sardinha, Disco 3, Lado A, Faixa 2 (Moimenta da Raia, Vinhais); Recolhas de Armando Leça, inéditas, arquivo RDP, bobine AF-541 (Évora), AF-457 (Vassal, Valpaços); Portugal – Raízes Musicais, de José Alberto Sardinha, BMG/Jornal de Notícias 1997, CD 2, faixas 29 (Freixo de Espada à Cinta) e 37 (Vinhais).

N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.