Palheta

Palheta – Nome genérico para designar a forma de produzir som através da vibração de uma pequena cana à passagem do ar. O nome indica que o primórdio da palheta consistia numa palha pequena, certamente a palhinha colocada dentro da boca, sobre a língua, que vibra à passagem do sopro, como as crianças costumam brincar. A palheta de cana é utilizada em vários instrumentos musicais, seja em forma de palheta dupla, como no oboé e na ponteira da gaita-de-foles, seja de palheta singela, de modelo batente, como no clarinete e no ronco da gaita-de-foles.

A nível popular, os estudiosos chamaram palheta a um instrumento de palheta dupla aplicada a um tubo cónico em madeira, provavelmente resquício português da antiga dulçaina (ou do seu primórdio), ou mesmo da charamela medieval, ou então, simplesmente da ponteira da gaita-de-foles, cujo único exemplar foi localizado perto de Monsanto da Beira – v. Instrumentos Musicais Populares Portugueses, de Ernesto Veiga de Oliveira. O mesmo em relação a um outro instrumento popular, localizado em Maxial, Torres Vedras, este todo ele feito de canas e com a palheta simples e batente – Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha. Qualquer destes instrumentos é correntemente denominado pelo povo como gaita (vide), ou subina (vide) na região de Torres Vedras. São usados para tocar modas de baile, ou qualquer melodia em voga para entretenimento individual do tocador, geralmente um pastor.

Por extensão, também se dá à voz humana o nome de palheta, aqui por vibração das cordas vocais: diz-se frequentemente que Fulano tem muita palheta para significar que tem muita “lábia”, ou excelsos dotes oratórios; e diz-se também que se esteve muito tempo “a dar à palheta” como sinónimo de conversar ou tagarelar. O próprio Eça de Queirós usa a palavra com esse sentido em carta que escreve de Cuba a Ramalho Ortigão, manifestando saudades da vivência portuguesa: “Estou longe da Europa e você sabe quão profundamente somos europeus, você e eu (…) Eu preciso política, crítica, corrupção literária, humorismo, estilo, colorido, palheta”.

Mais: Instrumentos Musicais Populares Portugueses, de Ernesto Veiga de OliveiraTradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, Tradisom 2000, p. 389 e 390.

Discografia: Recolhas de Ernesto Veiga de Oliveira, depositadas no Museu de Etnologia, Lisboa; Recolhas de José Alberto Sardinha: Recolhas Musicais da Tradição Oral Portuguesa, 1982, Disco 1, Lado A, Faixa 11 (Monsanto, Idanha-a-Nova); Portugal – Raízes Musicais, CD 4, faixa 34 (Idanha-a-Nova) e Tradições Musicais da Estremadura, CD 3, faixa 36 (Maxial, Torres Vedras).

N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.