FADO 1.- Reprodução de parte da entrevista de JOSÉ MÁRIO BRANCO à Revista do Expresso de 16/6/2018:
José Mário Branco – (…) Nunca pensei assim, fui sempre muito comparativo, muito integrante em relação ao que havia pelo mundo fora. E é curioso que veio, depois, a inscrever-se aí o livro do José Alberto Sardinha sobre a origem do fado.
Expresso (João Lisboa) – Leu-o?
José Mário Branco – Li. Provocou aquela bronca com o Rui Vieira Nery, mas veio provar por A mais B que existe uma relação muito estreita entre géneros musicais. Não sei se há algum estudo deste tipo sobre o tango e a milonga, na Argentina. Mas têm, de certeza, alguma coisa a ver com o campo, ou melhor, com a migração do campo para a cidade.
Expresso (João Lisboa) – No caso do fado, segundo a tese do José Sardinha, tendo como agentes disseminadores os músicos cegos mendicantes que circulavam de terra em terra, de feira em feira…
José Mário Branco – Música de cordel… Agora, estou a acabar um trabalho de direção musical com uma fadista e decidimos incluir no disco o fado Mouraria, um dos três fados intemporais que há e que já foi cantado e recantado, estilado por toda a gente. Ela procurou o seu estilo pessoal do Mouraria. E tem um viola com uma maneira de tocar incrível, com um balanço enorme, um lado mesmo tosco, soa a viola artesanal… E sabe que o resultado daquilo é uma chula? [risos] É incrível. Eu disse logo: esta faixa do disco vai ser uma demonstração da tese do José Sardinha! A viola é muito percutida, e o estilo dela tem muito a ver com as chulas ao desafio do litoral e do Baixo Minho.