Coreografia popular – Conjunto de passos e marcações executados pelos dançadores num baile popular e que constituem uma evolução colectiva ao som da música. A revolução nos costumes operada na Europa a partir dos finais do séc. XVIII, princípios do XIX, traduziu-se, no domínio coreográfico, na possibilidade de aproximação dos corpos dos dançadores, enlaçando-se, o que anteriormente não era permitido pelas regras sociais (note-se que a nível popular esta regra nem sempre vigorava). A forma de dançar a valsa, com os pares agarrados, tornou-se paradigma e expandiu-se por toda a Europa.
No seio do povo, a forma coreográfica circular (jogos de roda, bailes de roda, etc.), até então dominante, começou a ganhar desenhos mistos, com uma parte em que os bailadores passam entre si, dão as mãos, vão ao centro, voltam ao par, batem nas palmas destes, dão os braços, encadeiam e fazem todas as evoluções típicas do baile de roda, e noutra parte já “valseiam” agarrados. Esta tendência conduziu à consagração do chamado “baile agarrado”, em que os pares bailam com os corpos juntos ou aproximados, geralmente enlaçados por um dos braços. Isso, porém, não determinou o desaparecimento nem das modas de roda (substracto mais antigo), nem do chamado “baile solto ou aberto”, estrato coreográfico também ele antigo, em que os dançadores evoluem “desagarrados” (exs.: vira, malhão, chula, cana-verde).
O apagamento do baile solto no sul e parte do centro do país (incluindo a Beira Baixa) parece ficar a dever-se à acção dos acordeonistas profissionais que, dos anos 1920 aos 1980 (com especial intensidade nos anos 40, 50 e 60), passaram a ter a seu cargo a animação dos bailes populares, aí interpretando os ritmos da moda e respectivas formas coreográficas (agarradas), primeiramente os que provinham da tradição europeia oitocentista (valsas, marchas, mazurcas, polcas, chotiças, etc.), e posteriormente os pasodobles, os maxixes, os tangos e fox-trots da vaga mais recente. A proliferação destes acordeonistas profissionais determinou, por isso, a preponderância do baile agarrado no Sul, ao passo que a sua fraca penetração no Centro-norte e Norte permitiu aí a pervivência do baile solto ou aberto.
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