Compasso pascal – Visita do sacerdote, em Domingo e Segunda-feira de Páscoa (eventualmente também na Pascoela) a casa de todos os paroquianos dando o crucifixo a beijar aos seus moradores como anúncio da ressurreição de Jesus Cristo Salvador. O crucifixo é trazido pelo sacristão em cortejo, ladeado pelas lanternas e acompanhado por alguém, geralmente um garoto, que traz o hissope, vulgo caldeirinha. Logo atrás, o sacerdote, ladeado por um gaiato que toca incessantemente uma campainha avisando a chegada da procissão. Na Beira Baixa (Coutada, Covilhã), as casas que querem receber o Senhor, colocam flores no chão no exterior, à entrada da porta. Uma vez no interior, encontram-se reunidos os habitantes da casa, bem como os familiares e amigos. O sacerdote asperge a sala e anuncia: “Cristo ressuscitou!”, ao que todos respondem “Aleluia, Aleluia!”. Depois, o sacristão dá o crucifixo a beijar a todos os presentes. Segue-se uma refeição leve e bebidas oferecidas para todos os visitantes.
No Minho, em toda a Ribeira-Lima, o cortejo é acompanhado por um conjunto instrumental, que vai enchendo os ares de música festiva, seja uma tuna, sejam os Zés-Pereiras. No final do dia, toda a freguesia se encontra em local pré-determinado e dirige-se para a igreja cantando os clamores (v. cramol), cânticos religiosos polifónicos. Uma vez no templo, há lugar a um breve ofício litúrgico.
A reunião de toda a família e seus amigos dentro de cada casa (logo após, vão todos receber a visita do Senhor na casa de outro familiar e assim por diante), bem como todo o ambiente de alegria e fraternidade em torno da ressurreição de Cristo, representa verdadeiramente uma festa familiar, para muitos mais marcante que o Natal (por estranho que pareça aos citadinos). Muitos dos nossos emigrantes vêm à sua terra para celebrar a Páscoa com a sua família, não o fazendo no Natal. A Páscoa está mais profundamente enraizada que o Natal como festa de confraternização familiar (alargada e não apenas doméstica), pois às casas que recebem o Senhor acorrem todos os familiares, mesmo afastados, que andam numa roda viva para conseguirem ir a todas as casas. Além da confraternização, é ocasião privilegiada para sanar desavenças familiares, pois impera o espírito de união quando se abre a porta a todos quantos sejam amigos da casa.
Em geral fala-se de visita pascal, ao passo que em certas regiões esta prática leva o nome de compasso pascal – v. g. Minho e Beira Baixa. É nesta cerimónia de boas festas que os paroquianos entregam ao sacerdote uma contribuição pecuniária pelo mister de cuidar das suas almas, a que se chama tirar o folar (Beira Baixa).
N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.