Charamela – Instrumento musical de palheta dupla, de cana, colocada no bocal de um tubo sensivelmente cilíndrico, que se prolonga e termina em forma de vaso aberto como o ponteiro (ou ponteira) da gaita-de-foles. Embora a charamela clássica possuísse um tubo por onde se soprava, a nível popular o instrumento não apresentava essa característica, sendo semelhante à dulçaina (espécie de oboé campestre) ou à referida ponteira da gaita-de-foles, nas quais se sopra directamente pelos lábios do tocador para a palheta.
Pela sua sonoridade, tornou-se instrumento apropriado para a música tocada ao ar livre, em ocasiões de pompa e solenidade, como cerimónias e cortejos públicos, de variada natureza, a cargo de grupos de charameleiros tanto na Idade Média como já na Renascença. A este tipo de música (soadas de charamelas, bem como de trombetas ou sacabuxas, gaitas-de-foles, tudo geralmente acompanhado por tambores, caixas e/ou bombos) convencionou-se chamar música alta, por ser interpretada com instrumentos de grande amplitude sonora e, por consequência, passou também a chamar-se alta à dança sustentada por esses instrumentos. A charamela gozou de grande favor desde esses tempos, vindo, pelo séc. XVIII, a ceder o passo a outros instrumentos de fabrico mais elaborado, de maior amplitude e mais fácil execução, como o clarinete e o oboé.
A nível popular, foi perdendo importância a favor da gaita-de-foles, instrumento da mesma família, com o mesmo princípio sonoro – vibração de palheta dupla, de cana, pela passagem do ar. A charamela manteve-se, contudo, até aos nossos dias, como a sua parente dulçaina, encontrando-se em uso pelo povo, embora já muito raro, ainda no séc. XX. Terá até assumido uma importância na música popular de rua ainda mal avaliada pelos estudiosos. Como exemplo flagrante, saliente-se a charamela (ou dulçaina, não se consegue precisar) que se vislumbra no filme do SNI de 1953 sobre os festejos do Corpus Christi de Penafiel, integrada num vasto conjunto instrumental de Zés-Pereiras, oriundos de Carrazeda de Ansiães, composto de gaitas-de-foles, acordeões, tambores, caixas de rufo e bombos, desfilando no arraial dessas festividades – v. DVD anexo ao livro Danças Populares do Corpus Christi de Penafiel, de José Alberto Sardinha.
Mais: Tunas do Marão, de José Alberto Sardinha, p. 46 a 51.
N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.