Ceguinhos – O povo dá o nome genérico de ceguinhos aos grupos musicais populares ambulantes que integram um ou mais invisuais, grupos esses de dimensões variáveis, assim como ao simples intérprete singular invisual (este em geral acompanhado por um moço), habitualmente pedindo esmola ou compensação pecuniária pela sua prestação musical, nas ruas das aldeias, vilas e cidades, e também nas feiras e locais de aglomeração ou passagem de muita gente. Distinguiram-se particularmente na divulgação do romanceiro tradicional (vide), sobretudo na fase novelesca e, por fim, das cantigas narrativas (vide), a que também se chama romances de cegos, ou de cordel, justamente porque os ceguinhos vendiam folhetos com os textos poéticos que interpretavam.
Cantavam “histórias de casos sucedidos”, acontecimentos trágicos, casos de mortes, ciúmes, amores proibidos ou desencontrados, e funcionavam como o jornal das camadas populares. Foi com eles que nasceu o fado, como prolongamento do romanceiro tradicional. Exploravam a corda do sentimentalismo dos ouvintes, cantando aquilo a que pejorativamente se chamou o fado da desgraçadinha ou o fado de faca e alguidar, mas que, na realidade, representou o primórdio do Fado (vide). Estes grupos de músicos ambulantes atingiram grande número por todo o país ao longo do séc. XIX e primeira metade do XX, vindo a decair sobretudo a partir de 1968, altura em que o governo de Marcello Caetano concedeu a pensão de reforma aos rurais e deficientes. A sua importância na difusão de músicas populares de região para região não está devidamente valorizada, não só no que diz respeito ao romanceiro tradicional, mas também no âmbito das canções bailadas, visto que o seu reportório também incluía música para os bailes das povoações por onde passavam, geralmente nas tabernas em que correntemente estanciavam, como forma de pagamento do abrigo e da alimentação que aí recebiam.
Mais: A Origem do Fado, Tradisom 2010, de José Alberto Sardinha, p. 61 a 208.
N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.