Castanholas – Instrumento musical constituído por duas peças de madeira escavadas em forma de concha, colocadas na palma da mão do tocador, as quais, percutidas uma contra a outra por força do agitar da mão e dos dedos, produzem som. O tocador tanto pode colocar as castanholas na parte interior das mãos (posição mais habitual), como do lado de fora da mão, fazendo-as percutir contra a face exterior dos dedos, caso menos usual em que os dedos são protegidos por uma flanela.
O princípio sonoro é a vibração do próprio material do corpo do instrumento, pelo que pertence ao tipo dos idiofones – vide. As castanholas encontram-se difundidas por todo o país. Acompanham habitualmente os instrumentos melódicos que animam as danças populares, tocadas pelos próprios bailadores, marcando o ritmo.
Além deste tipo mais conhecido, existem outros exemplos de idiofones a que o povo português também chama castanholas. Num deles, as duas referidas peças encontram-se presas a uma pega ou cabo de madeira e batem contra o prolongamento deste cabo, ao sabor dos movimentos da mão do tocador. É conhecido por castanholas de cabo.
Outra espécie de castanhola é a castanhola de cana rachada, por vezes denominada apenas por canas – vide. Consiste numa cana cortada no sentido longitudinal até metade ou três quartos do seu corpo, altura em que é apertada por uma das mãos, enquanto os batimentos da outra junto à base, ao ritmo pretendido, fazem chocar as duas meias-canas do topo e assim produzir o som.
Há ainda um outro tipo de castanhola, a que o povo também chama tabuinhas (vide): apenas duas pequenas, alongadas e fortes, tábuas (tabuinhas, dado o seu reduzido tamanho) colocadas entre os dedos, que batem uma contra a outra ao simples sacudir da mão. Este último tipo de castanhola anda frequentemente associada à harmónica de boca, tocada pelo mesmo instrumentista, que enquanto segura a gaitinha com a mão esquerda, faz vibrar as tabuinhas com a mão direita. Esta associação também ocorre com o primeiro tipo referido de castanhola.
Igualmente as pedras, em lascas geralmente de xisto ou seixos alongados, podem servir de castanholas, ou entre os dedos, ao alto, como se descreveu para as tabuinhas, ou entre os dedos de uma mão, esta sobre a perna, em escadinha consoante os comprimentos, percutidas pelos dedos da outra mão. O povo chama-lhe por vezes pedrinhas.
Também o povo por vezes chama castanhola ao cartaxo (vide), outro idiofone, este feito de cana de pequena dimensão, ou melhor com meia-cana, percutida por uma peça presa numa guita em tensão. Por vezes, as mulheres também usavam as socas ou as chinelas, batendo as respectivas solas para produzirem som e assim baterem o ritmo das modas bailadas.
Todas estas castanholas assumem funções exclusivamente lúdicas, de acompanhamento rítmico dos instrumentos melódicos usados nas modas bailadas (harmónios, guitarras, violas, harmónicas de boca, concertinas e acordeões), ou simplesmente da voz do próprio tocador de castanholas. No Almanaque de Lembranças para 1860, um artigo sobre a “Romagem da Senhora das Neves”, Viana do Castelo, fala dos romeiros “cantarolando e dançando ao som de seus afinados instrumentos, que são pela maior parte, duas ou três violas, igual número de clarinetas e rebecas, algumas vezes o belo violão e sempre as castanholas hemisféricas de seco e duro buxo”.
Em 1898, César das Neves transcreve uma chula denominada “A Mirandeza”, com partes para gaita-de-folle e também para harmónico, informando em nota que esta chula pastoril também é acompanhada por clarinetes, requinta, flauta, tíbia, rebeca, tambor e castanholas. V. também Cartaxo, Mascoto, Matráculas.
Mais: Instrumentos Musicais Populares Portugueses, de Ernesto Veiga de Oliveira; Tradições Musicais da Estremadura, Tradisom 2000, de José Alberto Sardinha, p. 467 e 468;
Discografia: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha: Faixa 25 (Sobreiro, Mafra) do CD 3 que acompanha este livro, bem como, do mesmo CD, faixa 41 (Assafora, Sintra); Recolhas Musicais da Tradição Oral Portuguesa, 1982, de José Alberto Sardinha, Disco 1, Lado A, Faixa 8 (Sobral de S. Miguel, Covilhã – castanholas de pedra), Disco 3, Lado B, Faixa 9 (Alte, Loulé); Portugal – Raízes Musicais, de José Alberto Sardinha, BMG/Jornal de Notícias 1997, CD 1, Faixa 12 (Monção), CD 5, Faixa 32 (Abrantes), CD 6, Faixa 23 (Loulé); Recolhas de Armando Leça, inéditas, arquivo RDP, bobine AF-525 (Carreço, Viana do Castelo), AF-527 (Guimarães), AF-530 (Santa Cruz do Bispo, Matosinhos), AF-531 (Vila da Feira), AF-533 (Rocas, Sever do Vouga).
N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.