Baile

Baile – Antigamente existia, a nível terminológico, uma diferenciação entre dança e baile, aquela mais ligada às classes elevadas, este associado às camadas populares. A dança era a prática dos palácios e salões, com movimentos lentos, graves e elegantes. Os corpos não se tocavam. Apenas se pegavam as pontas das mãos, como era o caso do minuete, que é um paradigma. Os pés não deviam elevar-se. Dança era também o termo utilizado para as evoluções rituais coreográficas, como as danças das espadas, as danças dos pauliteiros (vide) ou as danças das procissões, como as do Corpus Christi – vide. Já o baile tinha movimentos mais bruscos, mais pulados ou saltados, mais rápidos, tudo próprio daquilo que se considerava gente grosseira do povo.

No fundo, tal diferenciação resultava da distinção entre música alta (instrumentos de grande amplitude sonora, como a charamela, a gaita-de-foles, próprios para serem tocados ao ar livre, como cerimónias públicas) e música baixa (procedente de instrumentos de menor amplitude sonora, como as flautas doces, e em geral os instrumentos de corda, mormente os da família das violas, quer de arco, quer de mão).

Correspondentemente, no que à prática coreográfica diz respeito, a música alta era essencialmente destinada aos bailes populares, geralmente ao ar livre e interpretados com movimentos exuberantes de braços e pernas, ao passo que a música baixa estava indicada para a intimidade e elegância dos salões da nobreza e dos palácios dos grandes senhores, bem como, mais tarde, para os lares da burguesia endinheirada que, a partir de finais do séc. XVIII, cultivou música e dança em pequenos concertos de salão, prática que, na história da música, ficou conhecida por Hausmusik.

A diferenciação terminológica entre baile e dança, por razões várias, ligadas em geral à popularização de certas palavras e à reabilitação social de outras, veio a obliterar-se com o decurso do tempo, passando a utilizar-se indistintamente as duas designações para as várias realidades. Exs.: Baile dos Ferreiros (nas festividades do Corpus Christi de Penafiel); o acto de bailar, entre o povo, foi perdendo essa denominação (e também a de brincar), e foi ganhando a de dançar.

N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.