Bailarico – Baile, balho, bailho, bailarito e bailarico são termos para designar popularmente o acto de bailar. Por qualquer razão, hoje impossível de determinar, fixou-se um tipo coreográfico-musical com o nome de bailarico, de ritmo aparentado com a polca, em compasso binário (sem embargo de haver exemplares grafados em quaternário).
O bailarico é dançado pelo Alentejo, Ribatejo, Algarve e Estremadura. Armando Leça registou uma Moda do bailarico em Alte, Loulé. O lugar comum, que se encontra muito generalizado, mesmo entre os estudiosos, de que o bailarico é saloio, ou que, pelo menos, é na região saloia que mais é dançado, não se encontra comprovado através de rigorosas e competentes investigações de campo e análises comparativas, tudo indicando tratar-se de um mito criado, como tantos outros nesta matéria da coreografia popular, e depois repetido por toda a gente, sem fundamento (tal como o vira em relação ao Minho, o fandango em relação ao Ribatejo e o corridinho em relação ao Algarve). No caso do bailarico, a asserção parece ter nascido de uma inocente quadra popular que refere “o bailarico saloio” (O bailarico saloio / Não tem nada que saber / É andar com um pé no ar / E outro no chão a bater), quadra que, aliás, ocorre também referentemente a outras modas bailadas do nosso povo.
A coreografia estremenha do bailarico é a seguinte: uma roda, com os pares “desagarrados”, frente a frente e de costas viradas para o outro elemento do par vizinho. Na primeira parte da música, a roda gira, com as raparigas recuando a bailar e os rapazes avançando em direcção a elas. Os passos são miúdos e saltitantes e tanto eles como elas levam as mãos no ar. Na segunda parte da música, os pares agarram-se e “valseiam” (bailam agarrados girando no mesmo sítio), primeiro para um lado e depois para o outro. Este era o “bailarito singel” (singelo), pois havia o “bailarito passado”, em que, a certa altura, cada um “passa” pelo elemento do par vizinho que lhe está mais próximo, fazendo um oito em seu redor e regressando ao seu par. O bailarico dançava-se “de quatro, de seis ou de oito” (quatro pares, seis pares, ou oito pares).
Mais: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, Tradisom 2000, p. 368 a 370.
Discografia: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, Faixa 9 (Mafra) do CD 1 e faixa 37 (Torres Vedras) do CD 3, que acompanham este livro. Recolhas de Armando Leça, inéditas, arquivo RDP, bobine AF-545 (“Moda do bailarico”, gravada em Alte, Loulé), AF-534 (Milagres, Leiria), AF-540 (Azinhaga, Golegã).
N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.