Roda, Moda de

Roda, Moda de – A dança de roda é seguramente o tipo coreográfico mais difundido na Europa e em todo o mundo. A sua origem perde-se na bruma dos tempos, pois é correntemente aceite que a primeira dança humana, certamente de carácter religioso, terá sido em redor de um ídolo nas sociedades primitivas, há milénios. A sua simplicidade contribuíu para a sua popularidade e difusão por todo o mundo: os bailadores formam uma roda, intercalando os do sexo masculino com os do feminino. Na fórmula mais cultivada, diríamos mais básica ou primitiva, dão as mãos uns aos outros virados para o centro do círculo, evoluindo a roda no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. De vez em quando, nas ocasiões em que a música o sugere, param e batem palmas, para de seguida retomarem o movimento circular.

Parece ter sido a matriz de muitas outras danças, já que foi a partir da sua coreografia elementar, das suas variações, dos passos laterais, das mãos dadas aos pares, da elevação das mãos, que foram sendo gerados os outros géneros coreográficos, desde a Idade Média, atravessando a Renascença, até se chegar às valsas, polcas e mazurcas do Oitocentos.

Em Portugal, como aliás no resto da Europa, o baile de roda conheceu grande favor. Segundo a Monarquia Lusitana, da autoria de Bernardo de Brito, Estrabão, ao descrever as danças da Galécia (actual Galiza e Entre Douro e Minho), refere uma forma bailada segundo a qual as moças pegam nas mãos umas das outras e executam uma dança em forma circular.

Importa, contudo, distinguir entre os bailes de roda e os infantis jogos de roda. Ora, estes jogos começavam por ser um entretenimento das moças nas suas brincadeiras de infância. As mais velhas ensinavam as mais novas, e estas, ainda crianças, aprendiam os jogos, assim se iniciando para, mais tarde, na adolescência e juventude, os repetirem, agora com os rapazes, em ingénuas representações de preferência amorosa que são a essência de tais jogos – v. Jogo de roda. Esta será uma das razões por que eram as moças que cantavam as modas de roda. Quando havia um tocador de flauta, de harmónio ou de gaitinha de beiços, estes instrumentos acompanhavam o canto. Na ausência desses tocadores, as vozes femininas asseguravam o baile.

Exemplos mais divulgados de bailes de roda: Ciranda, Carrasquinha, Enleio, Laranjinha, Rolinha, No alto daquela serra. César das Neves, no seu Cancioneiro de Músicas Populares, editado na última década do séc. XIX, transcreve numerosas danças de roda, a maioria das quais, porém, não chegou aos nossos dias.

Mais: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha, Tradisom 2000, p. 347 a 352.

Discografia: Tradições Musicais da Estremadura, de José Alberto Sardinha: Faixas 24 (Almofala, Caldas da Rainha) e 25 (Sobreiro Mafra) do CD 3 que acompanha o livro; Portugal – Raízes Musicais, CD 2, Faixas 11 (Vinhais), 15 (Montalegre) e 31 (Vinhais), CD 5, Faixas 25 (Penamacor), 27 (Bendada, Sabugal), 31 (Sabugal) e 36 (Penamacor), CD 6, Faixas 3 (Loulé), 5 (Castro Marim), 9 (Monchique); Recolhas de Armando Leça, inéditas, arquivo RDP, AF-451 (A pomba caíu ao mar e Rapaz aperta a faixa, de Barqueiros, Mesão Frio), AF-457 (Alijó), AF-459 (Bucos, Cabeceira de Basto), AF-528 (Silva Escura, Maia), AF-529 (Ovar), AF-531 (Bom Sucesso, Aveiro), AF-532 (Coimbra), AF-533 (Rocas, Sever do Vouga), AF-533 (Minde, Alcanena), AF-533 (Vilarinho, Lousã), AF-534 (Milagres, Leiria), AF-534 e 535 (Parada de Gonta, Tondela), AF-538 (Outeiro, Sertã e Escalos de Baixo, Castelo Branco), AF-539 (Mação e Teixoso, Covilhã), AF-540 (Azinhaga, Golegã), AF-545 (Alte, Loulé e Tavira).

N. B. – OS TEXTOS DESTA ENCICLOPÉDIA DAS TRADIÇÕES POPULARES ESTÃO SUJEITOS A DIREITOS DE AUTOR, PELO QUE A SUA REPRODUÇÃO, AINDA QUE PARCIAL, DEVERÁ INDICAR O NOME DO SEU AUTOR, JOSÉ ALBERTO SARDINHA.